domingo, 21 de novembro de 2010

Liberdade Interior:Parte II

“O mandamento funciona como convite ao exercício da liberdade humana”
 Em nenhum momento a liberdade do homem é colocada em risco por Deus. Mas, é da relação de liberdade entre Deus e o homem que o cristianismo enxerga a liberdade nos seus aspectos psicológico e sociológico. A liberdade humana seria uma participação na liberdade divina, permitindo que esse homem possa decidir-se diante do chamado de Deus. O texto do Gênesis procura muito mais descrever a liberdade de Adão e Eva do que mesmo apresentar algum tipo de fundamentação metafísica. A liberdade de nossos primeiros pais estaria limitada apenas pela vontade de Deus expressa na proibição de comer o fruto da árvore do conhecimento.     Essa proibição divina não deve ser entendida como uma afronta à liberdade de nossos primeiros pais.
A proibição constituiu como que um mandamento divino, e o valor de um mandamento não reside naquilo que não se faz ou no que está sob interdito, mas sim no caráter positivo. Todo mandamento é positivo porque oferece a oportunidade de “manifestarmos nossa liberdade na obediência a nosso Senhor”. O mandamento funciona como convite ao exercício da liberdade humana. Em contrapartida o pecado seria uma alienação dessa experiência de liberdade, onde o homem muitas vezes acaba “perdendo” a liberdade de não pecar. Essa alienação pelo pecado passa a ser confrontada pelo papel que a lei judaica desempenha na vida do homem do Antigo Testamento. Esse quadro passa a mudar drasticamente com o advento da teologia paulina, onde liberdade não é mais entendida como uma conquista humana, mas sim como dom Deus mediado pela pessoa de Jesus Cristo. A dialética aqui não é mais entre liberdade ou lei, mas sim liberdade e lei, mesmo que seja uma relação muitas vezes instável e passível de excessos para ambas as extremidades.
    É esse o sentido último que o cristianismo nos apresenta acerca da liberdade. Se por um lado a liberdade ainda está conectada à possibilidade de se pecar, por outro lado o conceito de liberdade se amplia como a obediência irrestrita à vontade do Pai, passando, para isso, pela pessoa de Cristo. A diferença fundamental da idéia de liberdade cristã para a noção que a filosofia nos traz sobre o assunto está no fato de que a liberdade do homem cristão está voltada para Deus. “Neste sentido, a liberdade cristã é algo completamente novo e desconhecido antes de Cristo e irrepetível depois dele, já que é liberdade no amor, e não simplesmente liberdade na filantropia, por estar enraizada no amor de Deus e não simplesmente no amor do homem”. O fim da liberdade não se volta para um projeto humano, seja ele qual for e seja qual for sua importância, mas volta-se para Deus e em Deus. Essa plena liberdade caracteriza a atitude espiritual ideal do cristão que rompe com todos os laços que não provenham de Deus.
    Mesmo situando-se no campo da fé, a liberdade não está a salvo de ameaças ao seu exercício, visto que essa mesma fé que o homem possui ainda é parcial e limitada. O homem muitas vezes cai na prisão de si mesmo e pode ser que não consiga sair tão cedo. Voltando a citar Rousseau, ele afirma que “quem faz o que quer é feliz quando basta a si mesmo” . Se no pecado o homem ama tanto a si a ponto de se esquecer de Deus, esse esquecimento de Deus o leva a prender-se em si mesmo como o único referencial para sua ética pessoal. E se ao lermos isso percebemos que em muitas áreas de nossa vida ainda estamos presos em nós mesmos, podemos inferir com segurança que nessas mesmas áreas ainda não somos livres. Estabelece-se aí uma dicotomia entre o que nossa liberdade pessoal tem q ser e o que ela é na realidade e só se consegue sair dessa encruzilhada mediante a graça divina. O ensinamento de Paulo nos leva a sair das constatações do que o homem é para se ater ao que é mais importante: o que o homem é chamado a ser.
    Partindo do pressuposto de que o homem nasce livre, é também bem verdade que ele não pode ser livre em toda a sua plenitude se não mediante o auxílio da graça. A liberdade cristã está fundamentada na graça e é também somente por ela que a liberdade concretiza-se no seu sentido pleno.
   E assim podemos retomar a relação que a liberdade possui com a questão de possibilidades. Ao se perceber a real conotação que a palavra liberdade possui no entendimento cristão pode-se perceber com clareza que a falta de possibilidades não significa uma ausência de liberdade. Os atos deliberados podem acontecer mesmo que não esteja na minha possibilidade. Em um exemplo: o fato de eu talvez nunca fizer uma viagem até Marte não significa que um astronauta que tenha ido para lá seja mais livre do que eu. Essa não é uma questão de liberdade, mas sim de possibilidades. Em parte a confusão se deve ao fato de que a sociedade atual incentiva uma corrida frenética pelo consumo. E com a livre concorrência, cada vez mais surgem opções de escolhas, variações de modelo, enfim, outras possibilidades de escolha.
    O sujeito que procura consumir muitas vezes se congela sem saber o que escolher. Talvez, o erro maior esteja em não escolher nada do que em escolher errado, mas as pressões sociais crescem no sentido de levar vantagem em cada escolha. Um dos grandes problemas que trazem angústia a muitas pessoas é a não satisfação com suas escolhas ou o desejo de buscar experiências ou formas de comportamento diferentes das suas. Uma síndrome em querer ser o número um em todas as situações acaba por ir consumindo a pessoa pouco a pouco…

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